CASO ANGELA DINIZ… VIOLENCIA DOMESTICA

Ângela Maria Fernandes Diniz (Curvelo ou Belo Horizonte,[nota 1] 10 de novembro de 1944 — Armação dos Búzios, 30 de dezembro de 1976) foi uma socialite brasileira assassinada em uma casa na Praia dos Ossos, em Armação dos Búzios, no estado do Rio de Janeiro, pelo seu companheiro, Raul Fernando do Amaral Street, conhecido como “Doca Street”.[2] O julgamento de Doca Street foi amplamente divulgado pela mídia[3][4][5] e teve como foco a moral sexual feminina. O assassino foi condenado a dois anos de prisão com sursis e imediatamente solto. A decisão judicial gerou um amplo movimento de protesto feminista, sob o lema “quem ama não mata”, ocasionando um novo julgamento, quando Doca Street foi condenado a quinze anos de prisão.[6] O evento é considerado um marco na história do feminismo no Brasil.[7]

Ângela e Doca namoraram por quatro meses, mas a relação foi marcada por ciúmes e violência doméstica.[12][13] Doca havia abandonado sua esposa e filhos para morar com Ângela, e em dezembro de 1976, ambos estavam veraneando na Praia dos Ossos, em Búzios, em busca de sossego das colunas sociais.[8]

Na noite do dia 30 de dezembro de 1976, Ângela e Doca tiveram uma discussão e ele saiu de casa. Um tempo depois, ele retornou, houve uma nova briga e Doca assassinou a namorada com três tiros no rosto e um na nuca com uma pistola Beretta.[4][14]

Após o homicídio, Doca fugiu e permaneceu semanas foragido. Chegou a dar entrevistas para a TV Globo e para revista Manchete, antes de se entregar a polícia em 18 de janeiro de 1977.[4]

O primeiro julgamento
Doca Street foi julgado em 1979 em Cabo Frio, sendo defendido pelo advogado Evandro Lins e Silva. A defesa foi baseada na tese de legítima defesa da honra, responsabilizando-se a vítima por ter provocado tal violência, em razão do próprio comportamento.[6] Na acusação, a família de Ângela contratou o advogado Evaristo de Moraes Filho para atuar como assistente de acusação.[6][15]

Durante o julgamento, se examinou amplamente a vida de Ângela, questionando sua moralidade sexual, seu envolvimentos com outros crimes, e sua dependência de drogas.[4] O julgamento foi extensamente coberto pela mídia, sendo que só o grupo Globo levou uma equipe de 68 pessoas entre técnicos e repórteres.[16]

O tribunal do júri condenou Doca Street por cinco votos a dois a uma pena de 18 meses pelo crime e seis meses por ter fugido da justiça, com direito à sursis. Por já ter cumprido sete meses preso, ou seja, um terço da pena, Doca foi liberado e pode sair livre do tribunal.[4][6]

O movimento feminista
A escandalosa decisão a favor do assassino de Ângela Diniz produziu o primeiro de uma série de movimentos feministas de protesto contra a violência doméstica sob o lema “quem ama não mata”, slogan tomado como resposta da argumentação da defesa da Doca Street de que ele “matou por amor”.[17][7] A pressão do movimento feminista levou a um novo julgamento de Doca Street.

O segundo julgamento
Em 1981, Doca Street foi submetido a um novo julgamento e condenado a 15 anos de prisão.[15] O julgamento foi acompanhado pessoalmente por ativistas feministas, que organizaram uma vigília e exigiram sentença e prisão para o assassino, explodindo em aplausos quando a sentença foi anunciada.[7] Enquanto que no primeiro julgamento havia predominado uma cobertura machista da mídia a partir da vida sexual da vítima,[3][4] já no segundo julgamento, a pressão do movimento feminista impôs um quadro de sentido baseado no próprio assassinato e na invalidade do argumento emocional para justificá-lo.[7]

Na mídia
A vida de Ângela chegou a ser cogitada como tema de um filme. Seria dirigido por Roberto Farias, e teria Deborah Secco como protagonista.[18] Entretanto o filme nunca foi realizado.

O programa Linha Direta, da Rede Globo, fez a reconstituição do crime e do julgamento no episódio Ângela e Doca.[19]

Em 2006, Doca Street lançou o livro Mea Culpa onde trata o caso com profundidade e dá sua versão aos fatos.[20][5]

Outro livro que descreveu, em parte, a história da socialite, é Mulher Livre de Adelaide Carraro.[21]

Em setembro de 2020, a Rádio Novelo lançou o podcast Praia dos Ossos, onde reconstitui o crime e tenta entender “como uma mulher desarmada é morta por quatro tiros e vira a vilã da história?”.[22]

(https://pt.m.wikipedia.org/wiki/%C3%82ngela_Diniz?fbclid=IwAR17zlwaJuXttqItkca3DsPHg_yzNferGmKEf_59DXBz9hTGtNnbowzo3aU )